Quem nunca ouviu mãe ou avó dizerem “toma bastante líquido para não desidratar” ou “se não comer, vai ficar doente” que atire a primeira pedra.
Todos nós já escutamos isso várias vezes na vida, principalmente quando crianças.
Esses conselhos maternos, que parecem crendices populares, não poderiam ser mais acertados.
Falta de líquidos e de nutrientes adequados causam desidratação e desnutrição, termos que ouvimos com tanta frequência que parecem bobagem, mas que podem evoluir para problemas graves se não forem tratados com rapidez e de forma adequada.
De forma geral, essas condições se referem à perda excessiva de líquidos e consumo ou absorção inadequada de nutrientes importantes para a saúde.
Desidratação e desnutrição podem também estar associados a problemas mais sérios de saúde.
Por isso, é preciso entendê-los, saber como identificá-los e como tratar pessoas nessas condições para que seja possível sanar o problema sem grandes complicações.
Neste artigo vamos falar sobre esses dois quadros, quais os sintomas, riscos envolvidos, tratamentos e dicas de como evitar.
Desidratação e desnutrição: o que é cada um?
Desidratação
Desidratação é quando o corpo perde mais líquidos do que consegue repor, resultando em uma queda de água e eletrólitos essenciais para o funcionamento do organismo.
Água é essencial para diversas funções do corpo humano como regular temperatura, transportar nutrientes, eliminar resíduos e manter a hidratação celular.
Sua falta pode levar a quadros sérios de desidratação e acarretar outros problemas de saúde.
A desidratação pode ocorrer por diversos fatores e variar de leve, com tratamento simples, a grave, podendo requerer até mesmo hospitalização.
Desnutrição
Desnutrição é uma condição que surge quando o organismo não recebe nutrientes essenciais e em quantidades adequadas para manter um bom estado de saúde e funcionamento do corpo.
Pode ser resultado de ingestão insuficiente de nutrientes, absorção inadequada pelo intestino ou utilização ineficiente dos nutrientes.
Existem diferentes formas de desnutrição, que se manifestam de várias maneiras e podem ocasionar sérios danos à saúde, além de contribuir para o surgimento de outros problemas.
Quais são os sintomas de desidratação?
Os sintomas de desidratação podem variar conforme a gravidade do quadro.
São sinais mais comuns de desidratação:
- Sede intensa: um dos primeiros sinais de desidratação, a sede é o mecanismo pelo qual o corpo tenta compensar a falta de líquidos.
- Boca seca e pegajosa: a falta de líquidos leva à redução do fluxo de saliva, que causa sensação de boca seca e dificuldade para engolir.
- Urina concentrada e reduzida: a desidratação ocasiona uma diminuição na produção de urina, que fica mais concentrada e com cor mais escura.
- Fadiga e fraqueza: ocorre porque a falta de água afeta o funcionamento adequado dos órgãos e músculos.
- Tontura e vertigem: o fluxo sanguíneo para o cérebro diminui com a desidratação, o que causa tontura vertigem e sensação de cabeça leve.
- Batimentos acelerados: a falta de líquido afeta a capacidade do coração de bombear sangue de forma eficiente, o que aumenta a frequência cardíaca.
- Pele seca e sem elasticidade: ocorre também pela falta de líquido, que compromete a hidratação das células.
- Olhos fundos: a desidratação faz parecer que os olhos estão afundados nas órbitas.
- Tontura ao levantar: ocorre por conta da hipotensão postural, causada pela falta de líquidos, que faz diminuir a pressão arterial.
- Confusão mental: ocorre nos casos mais graves de desidratação, caracterizado também por irritabilidade e falta de concentração.
Quais os sintomas de desnutrição?
Sintomas de desnutrição podem variar conforme a gravidade e duração da deficiência nutricional.
Os sintomas mais comuns são:
- Perda de peso: é um dos primeiros sinais de desnutrição, principalmente quando ocorre de forma rápida e significativa.
- Fadiga e fraqueza: uma pessoa desnutrida pode se sentir cansada o tempo todo e ter dificuldade para realizar atividades cotidianas devido à fraqueza muscular.
- Alterações na pele, cabelo e unhas: a pele fica seca e escamosa, com aparência pálida; cabelos ficam quebradiços e começam a cair; unhas ficam frágeis e quebradiças.
- Atraso no crescimento e desenvolvimento: em crianças, a desnutrição pode fazer com que apresentem estatura baixa, atraso no desenvolvimento cognitivo e motor e sistema imunológico enfraquecido, deixando-as propensas a infecções.
- Problemas gastrointestinais: a falta de nutrientes adequados pode causar diarréia, constipação, náuseas, vômitos e dores abdominais.
- Enfraquecimento do sistema imunológico: a desnutrição deixa o corpo mais suscetível a infecções como gripes e resfriados e infecções bacterianas.
- Alterações de humor e na cognição: desnutrição afeta o estado mental e emocional, deixando a pessoa irritada, apática, com humor alterado e dificuldade para se concentrar.
Quem corre mais risco de ter desidratação e desnutrição?
Qualquer pessoa pode ficar desidratada e desnutrida, mas alguns grupos correm mais riscos.
Crianças
As crianças são particularmente mais vulneráveis à desidratação e desnutrição devido a suas necessidades nutricionais específicas e ao seu rápido crescimento.
A falta de uma alimentação adequada e dificuldade de acesso à água potável causam deficiências nutricionais e outros problemas que comprometem seu desenvolvimento e saúde.
Idosos
O apetite diminui com a idade, dificultando a obtenção adequada e suficiente de nutrientes dos alimentos.
Certas condições de saúde, uso de medicamentos e dificuldade de locomoção e mobilidade contribuem para que o risco desses problemas aumente entre os idosos.
Pessoas em situação de pobreza ou insegurança alimentar
Indivíduos ou comunidades que vivem em condições de extrema pobreza ou que possuem acesso limitado a alimentos nutritivos e água potável correm grande risco de desenvolver desnutrição e desidratação.
A falta de recursos financeiros e condições de higiene dificultam o acesso à água e alimentos e comprometem a saúde dessas pessoas.
Pessoas com doenças crônicas
Câncer, problemas renais, problemas digestivos e doenças que comprometem a absorção de nutrientes deixam os pacientes mais propensos à desnutrição e desidratação.
Essas condições interferem na ingestão, absorção e utilização adequada dos nutrientes necessários para o corpo.
Pessoas com condições agudas ou crônicas que causam perda de fluídos
Infecções gastrointestinais como diarreia e vômitos intensos podem levar à desidratação se não forem tratadas adequadamente.
Além disso, condições médicas crônicas como diabetes descontrolado e insuficiência cardíaca podem contribuir para desidratação se o balanço hídrico não for adequado.
Qual a relação entre desidratação e desnutrição?
Embora sejam conceitos distintos, desidratação e desnutrição podem estar interligadas e contribuir negativamente para o estado de saúde geral de uma pessoa.
Quando uma pessoa está desidratada, ela pode perder o apetite e ter dificuldade de comer adequadamente.
Além disso, a desidratação afeta a função dos órgãos, incluindo o sistema digestivo, o que pode prejudicar a absorção de nutrientes dos alimentos.
Da mesma forma, a desnutrição aumenta o risco de desidratação.
Quando o corpo não recebe os nutrientes necessários, pode sofrer alterações metabólicas e disfunções em vários sistemas, incluindo o sistema renal, que regula o balanço de eletrólitos e água no corpo.
Isso pode deixar a pessoa mais suscetível à desidratação, mesmo quando a ingestão de líquidos é adequada.
Importante destacar que uma pessoa desnutrida não é, obrigatoriamente, uma pessoa desidratada e vice-versa.
Mesmo podendo estar relacionadas, são condições independentes e devem ser tratadas de forma direcionada.
Que doenças podem causar desidratação?
Diversas doenças e condições médicas podem causar desidratação, mas as mais comuns são:
- Gastroenterite
- Doenças renais
- Diabetes
- Febre alta
- Diarréia crônica
- Excesso de transpiração
- Doenças respiratórios como pneumonia e bronquite
- Vômitos frequentes
Essa lista não se encerra aqui.
Outras doenças e situações podem levar à desidratação, por isso, procure atendimento médico se você suspeitar que possa estar desidratado.
Que doenças podem causar desnutrição?
Diversas doenças ou condições médicas podem levar à desnutrição, como por exemplo:
- Anorexia nervosa
- Bulimia nervosa
- Doenças gastrointestinais
- Diabetes descompensado
- Distúrbios metabólicos hereditários
- HIV/AIDS
- Alcoolismo
- Doenças crônicas como doença pulmonar, câncer, problemas renais e insuficiência cardíaca
Desnutrição e subnutrição são a mesma coisa?
Embora estejam relacionados à deficiência de nutrientes, existe diferença entre os dois conceitos.
Desnutrição é um conceito mais abrangente que se refere à deficiência de nutrientes essenciais no organismo, resultante de uma ingestão insuficiente ou inadequada de alimentos.
Ocorre quando a pessoa não consome calorias, proteínas, vitaminas e minerais em quantidades suficientes para suprir as necessidades do corpo.
A subnutrição é um termo específico para se referir à deficiência de calorias na dieta, ou seja, à um ingestão insuficiente de energia, e ocorre quando o corpo não recebe calorias suficientes para atender às necessidades diárias de energia.
Em resumo, a desnutrição engloba a deficiência de nutrientes em geral (calorias, proteínas, vitaminas, minerais), e a subnutrição refere-se especificamente à deficiência de calorias.
A subnutrição é um tipo de desnutrição, mas nem toda desnutrição é necessariamente subnutrição, pois pode envolver a falta de outros nutrientes além das calorias.
Qual o tratamento para desidratação?
O tratamento para a desidratação geralmente envolve a reposição dos líquidos perdidos pelo organismo.
Dependendo da gravidade, o tratamento pode variar de medidas simples, que podem ser feitas em casa, até intervenções médicas mais complexas.
Os tratamento comuns para desidratação são:
- Ingestão de líquidos: em casos leves de desidratação, é possível tratar simplesmente aumentando a ingestão de líquidos como água, sucos diluídos, bebidas esportivas ou soluções de reidratação oral.
- Administração de soluções de reidratação oral: em casos moderados, são recomendadas soluções compostas de água, eletrólitos (sódio, potássio e cloreto) e açúcares, que são encontradas em farmácias e não necessitam de receita médica.
- Administração intravenosa (IV): em casos graves ou quando a pessoa não consegue tolerar a ingestão de líquidos, pode-se administrar uma solução salina diretamente na corrente sanguínea, fornecendo rapidamente os líquidos e eletrólitos necessários.
- Tratamento da causa subjacente: além de repor os líquidos, é importante tratar a causa subjacente da desidratação, como por exemplo, infecção gastrointestinal e outros.
Qual o tratamento para desnutrição?
O tratamento envolve abordagens multidisciplinares para promover a recuperação nutricional e pode variar conforme a gravidade do quadro, as condições subjacentes e as necessidades individuais.
Exemplos de tratamentos:
- Aumento da ingestão de nutrientes: dieta equilibrada para aumentar a ingestão de nutrientes por meio de alimentos ricos em calorias, proteínas, vitaminas e minerais, além de fórmulas especiais de nutrição enteral ou suplementos orais se necessário.
- Prescrição de suplementos nutricionais: para fornecer a quantidade adequada de nutrientes essenciais, os suplementos podem ser líquidos, em pó ou em forma de barras, enriquecidos com proteínas, vitaminas e minerais.
- Aconselhamento nutricional: orientação personalizada de um nutricionista para desenvolver um plano alimentar adequado às necessidades individuais.
- Tratamento das condições subjacentes: tratamento para a doença que causou a desnutrição antes ou em paralelo ao tratamento para a desnutrição.
- Tratamento médico regular: é essencial que um médico monitore os progressos, avalie os níveis nutricionais, ajuste a dieta e ofereça suporte contínuo.
Existe mais de um tipo de desnutrição?
Pode-se citar 5 tipos diferentes de desnutrição:
Protéico-calórica
Tipo mais comum de desnutrição, ocorre quando há deficiência de calorias e proteínas na dieta e pode levar à perda de peso, falta de energia, enfraquecimento muscular, comprometimento do sistema imunológico e outros problemas.
Energética
Especificamente relacionada à deficiência de calorias na dieta, quando a ingestão de energia é insuficiente para atender as necessidades diárias do organismo, resulta em fraqueza, fadiga, falta de energia, perda de peso e outros.
Protéica
Refere-se à deficiência de proteínas, que são essenciais para a construção e reparação de tecidos, produção de enzimas e hormônios e outras funções vitais, e pode causar atrofia muscular, retardo de crescimento, enfraquecimento do sistema imunológico e outros.
Micronutricional
Ocorre quando há deficiência de vitaminas e minerais essenciais na dieta, podendo ser causada por ingestão insuficiente ou problemas de absorção, que levam à anemia, cegueira noturna, raquitismo, escorbuto e bócio.
Infantil
É a desnutrição que ocorre em crianças, geralmente por ingestão inadequada de nutrientes durante o período de crescimento e desenvolvimento, e que pode ter efeitos duradouros na saúde e no desenvolvimento físico e cognitivo infantil.
Quais são os tipos existentes de desidratação?
Existem 3 tipos de desidratação:
Hipertônica
É quando a perda de água é maior que a perda de eletrólitos, e ocorre geralmente em casos de pouca ingestão de água, enquanto a perda de líquidos continua.
Isotônica
É quando há uma perda equilibrada de água e eletrólitos, que ocorre geralmente em casos de vômitos, diarréia, sudorese excessiva ou aumento da diurese (urina).
Hipotônica
É quando se perde mais eletrólitos do que água, como ocorre quando uma pessoa consome líquidos hipotônicos em excesso sem compensação eletrolítica durante exercícios físicos intensos, por exemplo.
10 dicas para evitar desidratação e desnutrição
- Beba água regularmente ao longo do dia
- Aumente a ingestão de líquidos em climas quentes, durante atividades físicas e quando estiver doente
- Tenha uma alimentação variada e balanceada com alimentos de todos os grupos alimentares importantes como frutas, legumes, grãos, carnes e laticínios
- `Priorize alimentos como vegetais de folhas verdes, frutas frescas, nozes, sementes, legumes, carnes magras, peixes, ovos e grãos integrais
- Evite alimentos processados e ultraprocessados
- Reduza o consumo de alimentos industrializados, ricos em açúcares adicionados, gorduras saturadas, sal e aditivos químicos
- Faça refeições regulares
- Não pule as refeições principais (café, almoço e jantar)
- Busque orientação profissional (nutricionista ou outro) para identificar melhorias na sua dieta, planejar refeições e oferecer dicas específicas
- Conheça os sinais de desidratação e desnutrição, principalmente se tiver propensão a eles ou se fizer parte de grupos de risco e procure ajuda se apresentar sintomas
Qual a quantidade de água ideal para evitar a desidratação?
A quantidade necessária varia conforme idade, peso, nível de atividade física, clima e saúde em geral.
Uma recomendação comum é a ingestão diária de 8 copos de água, que equivale a 2 litros mais ou menos.
Essa recomendação é conhecida como a regra dos 8×8, que sugere beber 8 copos de 240ml de água diariamente.
No entanto, essa quantidade pode não ser suficiente para todas as pessoas, por isso, consulte um médico e siga suas orientações.
Quais são os grupos alimentares mais importantes que devem estar na minha dieta?
Uma dieta equilibrada deve conter alimentos dos principais grupos alimentares, que são frutas e vegetais, grãos integrais, proteínas, laticínios, gorduras saudáveis e água.
Qual profissional devo procurar se desconfiar que estou desidratado e desnutrido?
Diversos profissionais estão qualificados para ajudar nesses casos.
Os principais pais são clínico geral, pediatra, nutricionista, nutrólogo, enfermeiro e equipe de cuidados hospitalares.
É também recomendado procurar especialistas que tratem as causas subjacentes desses problemas, tais como gastroenterologista, endocrinologista, psicólogo, psiquiatra, urologista, clínico geral, pediatra e outros.
Uma alimentação saudável é essencial para controle e combate da desnutrição e desidratação. Saiba mais no artigo Como ter uma alimentação saudável no dia a dia em 9 passos.